terça-feira, 22 de maio de 2012

Afonso Jantarada

Esta história fez-me desviar do percurso habitual hoje de manhã...

Ouvida pela voz de Fernando Alves no Programa "Sinais" da TSF...

"A história foi-me contada, ontem, ao telefone por um amigo, ainda emocionado. É uma história de ontem mas vale a pena recuarmos, disse ele, ao final de 2010, quando Amadeu Ferreira,o professor de direito que tem trazido para a primeira linha a investigação e a divulgação da língua mirandesa, estava a apresentar um dos seus livros. Um rapaz abeirou-se de Amadeu Ferreira com umas folhas na mão e disse-lhe: "Um dia gostava de publicar um livro de poemas. Estão aqui alguns. Pode ajudar-me?". O rapaz tem 15 anos, uma paralisia motora, um pensamento ágil. Ontem o meu amigo acabara de assistir ao lançamento do livro do mais jovem poeta mirandês. Um livro publicado em duas línguas. O autor chama-se Afonso Jantarada, é natural de Sendim. O livro chama-se "Imagem de Infância" ou "Calantriç de Nineç". Afonso, natural de Sendim, assina também Rapaç de la Rue e explica que o livro foi feito nas duas línguas da sua infância. O livro foi apresentado, ontem, no Externato Champagnat em Lisboa pelo professor Amadeu Ferreira.

O meu amigo ditou-me ao telefone um poema do jovem de Sendim: "A Terra não cultivada /é como eu: uma terra /em que ninguém vê trabalho,/ mas onde as pequenas coisas que saem da terra /têm mais valor que as outras".

Colho estes versos de Afonso Jantarada como se saboreasse a melhor posta mirandesa do mundo. E já a saboreei em Sendim onde dizem, aliás, que ela nasceu. Já ouvi as histórias de Ti Gabrila que servia a carne no pão em plena rua, nos dias de feira. Talvez as tenha, até, escutado do próprio Amadeu Ferreira que, há dez anos, entrou nesta redacção ainda de madrugada e se sentou connosco, foi um de nós nesta redacção, traduzindo e dizendo na antena, em mirandês, as notícias do dia. Amadeu é de Sendim, como o jovem poeta Afonso. Foi nas ruas de Miranda que o conheci, Afonso ainda não tinha nascido.

Não por acaso, Afonso usa o pseudónimo Rapaç de la Rue, Rapaz da Rua. Digo não por acaso, porque é para a rua que a notícia me chama. Para Sendim. E para Lubián, do outro lado da fronteira.

Há dias, guardei de um jornal de Zamora a notícia de que meninos de uma escola de Sendim tinham sido recebidos pelos de Lubián. O encontro fazia parte de um programa do Agrupamento Europeu de Cooperação Territorial chamado "Conhecendo-nos". Envolve 13 cidades, vilas ou povoados da raia. De Freixo de Espada á Cinta a Puebla de Sanabria. Nesse dia, os de Lubian tinham recebido os de Sendim. Mostraram-lhes o centro histórico, falaram-lhes dos costumes da terra, da sua cultura. Na semana anterior, os de Lubián tinham andado em Sendim. Nas ruas de Sendim. Onde ainda se sente o cheiro da melhor posta mirandesa. Na terra cultivada por poetas como Amadeu Ferreira ou o Rapaç de la Rue."

(Fernando Alves escreve no português anterior ao acordo ortográfico)









3 comentários:

  1. Olá Afonso! Gostaría de saber onde poderei encontrar o teu livro à venda? Muita força, um abraço

    ResponderExcluir
  2. Olá Afonso,
    Muitos parabéns pelo livro, que este seja o primeiro de muitos, o teu talento não tem fim, és um bom menino e eu sem te conhecer pessoalmente, estou muito, muito feliz por ti.
    Um beijinho muito grande
    Natalina Baptista

    ResponderExcluir