terça-feira, 29 de maio de 2012

Contemplo O Que Não Vejo


"Contemplo o que não vejo.

É tarde, é quase escuro.
E quanto em mim desejo
Está parado ante o muro.


Por cima o céu é grande;
Sinto árvores além;
Embora o vento abrande,
Há folhas em vaivém.


Tudo é do outro lado,
No que há e no que penso.
Nem há ramo agitado
Que o céu não seja imenso.


Confunde-se o que existe
Com o que durmo e sou.
Não sinto, não sou triste.
Mas triste é o que estou."


Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"


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