sexta-feira, 11 de maio de 2012

A Minha Hora



Que horas são? O meu relógio está parado,


Há quanto tempo!...

Que pena o meu relógio estar parado

E eu não poder marcar esta hora extraordinária!

Hora em que o sonho ascende, lento, muito lento,

Hora som de violino a expirar... Hora vária,

Hora sombra alongada de convento...



Hora feita de nostalgia

Dos degredados...

Hora dos abandonados

E dos que o tédio abate sem cessar...

Hora dos que nunca tiveram alegria,

Hora dos que cismam noite e dia,

Hora dos que morrem sem amar...



Hora em que os doentes de corpo e alma,

Pedem ao Senhor para os sarar...

Hora de febre e de calma,

Hora em que morre o sol e nasce o luar...

Hora em que os pinheiros pela encosta acima,

São monges a rezar...



Hora irmã da caridade

Que dá remédio aos que o não têm...

Hora saudade...

Hora dos Pedro Sem...

Hora dos que choram por não ter vivido,

Hora dos que vivem a chorar alguém...



Hora dos que têm um sonho águia mas... ai!

Águia sem asas para voar...

Hora dos que não têm mãe nem pai

E dos que não têm um berço p'ra embalar...

Hora dos que passam por este mundo,

De olhos fechados, a sonhar...



Hora de sonhos... A minha hora

- 'Stertor's de sol, vagidos de luar -

Mas... ai! a lua lá vem agora...

- Senhora lua, minha senhora,

Mais um minuto para a minha hora,

Mais um minuto para sonhar...



Saúl Dias, in "Dispersos (Primeiros Poemas)"


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