domingo, 16 de setembro de 2007

Dalai Lama, humano como nós

O Prémio Nobel da Paz esteve esta tarde no Pavilhão Atlântico. Nas bancadas da sala lisboeta, 10 mil pessoas ouviram-no falar de «paz», «compaixão» e «felicidade». O líder espiritual do Tibete fez questão ainda de explicar: «Sou como uma pessoa igual a vocês, mentalmente, emocionalmente, fisicamente. Sou simplesmente um ser humano». O Pavilhão Atlântico costuma encher para receber estrelas da música do Pop e Rock mundial. Esta tarde, o Dalai Lama também conseguiu que 10 mil pessoas o fossem ver e ouvir à sala lisboeta. Muitos olham para ele como um profeta. Outros como um pacificador. Há quem vá mais além e o considere o «Buda Vivente». Mas o dono da gargalhada mais contagiosa do mundo das religiões disse que é apenas um de nós. Uma hora antes do líder espiritual do Tibete entrar na maior sala de espectáculos da capital, o movimento em torno ao pavilhão era já intenso. Maria Brito, uma farmacêutica de 49 anos, explicava a razão de estar ali. «Não sou praticante, mas visitei recentemente a Tailândia e todo aquele misticismo e exotismo, a fé de pessoas e a comunhão com a natureza apelaram ao mais fundo do meu ser. Senti-me atraída por esta filosofia e prática de vida», disse ao PortugalDiário, considerando que a vinda do Dalai Lama é também uma «forma de recordar a questão do Tibete». Cecília, de 28 anos, e Pedro, 25, também disseram ter «alguma afinidade com o Budismo». «O Dalai lama é quase um ídolo e tínhamos que vir hoje. A presença e energia dele é importante para a nossa caminhada», explicou ela. Com ambos a dizerem-se bem informados sobre os problemas que os tibetanos têm enfrentado, depois da invasão do território, em 1950, e do posterior exílio, em 1959, do seu líder espiritual, que actualmente reside em Dharamsala, na Índia.
«Sou simplesmente um ser humano»
Quem foi ao Atlântico à espera de escutar subtilezas místicas foi esclarecido logo ao início, pelo próprio Prémio Nobel da Paz, que não era disso que vinha falar. «Algumas pessoas vieram aqui com muitas expectativas. Isso é um erro. Eu não tenho nada para oferecer, só apenas alguns pensamentos. Há ainda algumas pessoas que acreditam que o Dalai Lama tem poderes mágicos. Isso é uma asneira. Alguns até acreditam que o Dalai Lama tem o poder de curar. Isso é um disparate», abriu assim a sua palestra o homem que se senta sempre que quer dizer coisas importantes. O líder espiritual afirmou-se mesmo um céptico relativamente aos chamados milagres. «Devemos ser realistas, práticos», apelou, tratando de esclarecer que o qualificativo de Buda Vivente, que muitas vezes lhe é atribuído é errado. «Sou como uma pessoa igual a vocês, mentalmente, emocionalmente, fisicamente. Sou simplesmente um ser humano». E a gargalhada que se seguiu não o deixou mentir.
A terapia da «compaixão»
O Ocidente, disse o Dalai Lama, descobriu os segredos do progresso material. Mas com o preço de um «vazio» que separa as pessoas da «felicidade» que não pode ser preenchido por nenhum tipo de solução técnica. O «stress, a solidão, a depressão» são os sintomas da «negligência» a que têm sido votados os «valores interiores», diagnosticou. A perda de influência da religião e a desintegração dos núcleos familiares foram apontados como desagregadores de uma «educação» que levava as pessoas a estarem mais próximas da vida interior e como causadores do erosão que sofreu o «sentido da compaixão» - a palavra mais escutada da tarde. Para o líder espiritual, a «compaixão», no seu sentido de «preocupação genuína pelos outros» é a resposta para uma vida que tem a felicidade como meta. «Mas isto é algo que exige treino» e uma educação para uma «ética secular», não no sentido de excluir as religiões, mas de incluir também os que não acreditam, defendeu.
«A paz não cai do céu»
A sua mensagem centrou-se também na questão da guerra e na resolução do problema do Tibete. Para o Dalai Lama, a paz exige um compromisso sério e a tomada de consciência da humanidade como um todo. «Não há o nosso planeta e o planeta dos outros», explicou, qualificando os conflitos como uma expressão de ódio que pode ser solucionado num duplo movimento de compromisso com «um desarmamento interior e de um desarmamento exterior». «A paz não cai do céu», concluiu.

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