sexta-feira, 3 de agosto de 2007

O Bodo do Pão e do Queijo

Esta é uma Lenda da Região de Leiria. Estou a colocar aqui porque ainda hoje a ouvi no Programa "Lendas e Calendas" da TSF.
Ora então cá vai: Era uma vez ... ali no Terreiro, que depois veio a chamar-se “Terreiro do Pão e Queijo” e hoje é o Largo Cândido Reis, mas mais conhecido pela antiga denominação de “Terreiro”, havia uma mulher que tinha uma venda. Um dia, tocada pela ganância de maiores lucros e menores trabalhos, a taberneira foi-se a um poço que tinha na sua casa e dele tirou a água com que baptizou o vinho que tinha para vender aos seus fregueses, sem saber que a água era salgada. E fez isto uma vez, e outra vez, mais algumas vezes sem que ninguém descobrisse a trapaça da vendedeira. Mas, como diz o nosso povo: “O homem cobre e Deus descobre.” Assim foi também desta vez, pois um belo dia os fregueses começaram a perceber que o vinho estava salgado, o que muito entristeceu a mulher que de pronto mandou tapar o poço. A taberneira, que era boa mulher, deu de se arrepender da sua boa acção e fez logo testamento legando todos os seus haveres à Confraria do Espírito santo, de Leiria, com a condição de com o seu rendimento dar, todos os anos no 1º de Maio, aos pobres da cidade, um bodo de pão e queijo. E assim se fez durante muitos e muitos anos, até que os confrades se esqueceram da obrigação que aquele legado lhes impunha, empregando tais rendimentos em despesas que não obedeciam à intenção da testadora. Uma vez, o Bispo Dom Dinis de Melo, tomou conhecimento e ordenou, por provisão de Abril de 1632, que o pão amaçado e o queijo comprado se dividisse em três quinhões e se distribuíssem, um para os pobres, outro para os pobres envergonhados e o terceiro para os pobres que ocorressem à casa onde era hábito dar o bodo. Aquela provisão bispal foi confirmada por outra de D. Pedro Barbosa, também Bispo da Diocese de Leiria, datada de Abril de 1637. Depois da morte da vendedeira, o dono da casa, Manuel de Campos, mandou atulhar o poço. No último quartel do século passado, a Rua do Pão e Queijo, onde estava situada a venda e até onde chegava o Terreiro em tempos passados, mudou o nome, assim se esquecendo uma designação que era secular e criada pelo poço.
in "Lendas de Portugal"

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