quarta-feira, 25 de julho de 2007

Anorexia e Bulimia » Espelho que atraiçoas!

A obsessão com o corpo e beleza leva muitas pessoas às perturbações alimentares. A anorexia e bulimia afectam pessoas de todas as idades e devasta famílias inteiras.
Histórias de Cinderelas, que se sentem gatas borralheiras.
Tem 20 anos e frequenta o 2º ano de Estudo Europeus, na Faculdade de Letras de Lisboa. Marta Brás sempre foi uma boa aluna. Até aqui, reúne as condições de uma jovem normal, mas Marta vive ainda com o fantasma da anorexia e bulimia, doenças que sofreu na pele e no corpo durante cerca de cinco anos.
Hoje, fala calma e serena, sobre o problema, que sabe poder voltar a qualquer instante.“Continuo a ter um cuidado excessivo, diria mesmo doentio, com a comida”, confessa ao Saúde Semanário.
E acrescenta: “a grande diferença é que hoje tenho consciência e sei que tenho de lutar contra a doença”.
Quebrar tabus
A anorexia nervosa e a bulimia vivem-se sobretudo no feminino, mas começa também a afectar muitos homens. Cerca de 90% dos doentes são mulheres e 10% homens, contabiliza a presidente da Associação dos Familiares e Amigos de Anorécticos e Bulímicos (AFAAB). Adelaide Braga conhece bem os contornos destes desequilíbrios alimentares, já que os vivenciou com a sua filha. Hoje, dedica-se a fazer passar a palavra e a ajudar pessoas na mesma situação “As famílias ficam completamente desorientadas e não sabem o que fazer, nós ajudamos”, explica. A AFFAB existe desde 1998, tem cerca de 200 sócios e segundo a presidente “tem ajudado a quebrar tabus, já que antes não se falava nestas doenças”. Ainda assim reconhece “doentes há muitos, associados poucos”.
Famílias também sofrem
Olhar para o espelho e sentir-se extremamente gordo, mesmo que se pese apenas 37 kg, como chegou a ser o caso de Marta Brás. É assim a rotina de muitas pessoas que sofrem de perturbações alimentares.
“O mais difícil é reconhecer que somos doentes, sentimo-nos gordos apenas”, explica a jovem. E reconhece: “foi tão difícil para mim como para a minha família”. Adelaide Braga partilha da mesma opinião.
“Os doentes não falam, tendem a fechar-se e é difícil olhar para eles e perceber o seu problema”, revela. No caso de Marta, os pais levaram cerca de seis meses a entender. “Achavam que se tratava de um problema de falta de apetite”.
Padrões de beleza exigentes
A presidente da AFAAB não consegue determinar as razões que levam a estas doenças. “A maioria dos doentes tem entre os 13 e os 20 anos, ainda assim, existem anorécticos e bulímicos de todas as idades, de 40, 50 anos, mas também com menos de seis anos”, avança a responsável. No entanto, aponta os exigentes padrões de beleza como causa primordial. “A sociedade exige muito das mulheres e às vezes basta começar por uma dieta para iniciar um caminho perigoso”, alerta.
A psicóloga Rute Melim também considera que as pessoas estão cada vez mais dependentes da moda. “O culto da beleza é próprio da juventude, o problema é quando isso se torna obsessivo”, aponta a clínica. Marta Brás não sabe como se tornou doente. “Penso nisso várias vezes, mas não chego a nenhuma conclusão”, revela e sublinha “ter tido sempre um ambiente familiar impecável”. Lembra-se, contudo, de ter ido, ao 13 anos, a uma consulta de rotina, onde foi pesada e estava dentro dos padrões normais. Nesse dia, prometeu ao médico que na consulta seguinte estaria mais magra. Na escola fez um pacto com as amigas e entraram num concurso. “ A grande diferença é que elas prosseguiram a sua vida e eu não”, lamenta. Rute Melim diz que esta situação é muito frequente. “Há sempre rivalidades, ciúmes e invejas, que muitas vezes são levadas ao extremo”.
A solução para a estudante passou por um tratamento psiquiátrico, que hoje já não frequenta. Adelaide Braga recomenda a todos os familiares a consulta de um especialista nesta doenças, pois considera a única forma de resolver o problema. “ A maioria dos casos (60%) são resolvidos com sucesso, outros são crónicos e nalguns casos estas doenças matam mesmo”, avisa.
55% quer perder peso
A maioria dos jovens, e em especial as raparigas, não estão contentes com o seu corpo. Um inquérito feito por técnicos de saúde da consulta de comportamento alimentar do Hospital de Santa Maria, que incluiu 770 universitárias, verificou que cerca de 55% da amostra queria perder peso, 12% encontrava-se a fazer dieta e cerca de 49% já tinha feito dieta.
Anorexia Nervosa
É uma perturbação psicológica com implicações físicas e emocionais graves. Afecta predominantemente as adolescentes com maior risco de incidência entre os 14-18 anos, podendo iniciar-se mais cedo. Embora seja predominante no sexo feminino, surge também no sexo masculino. Caracteriza-se essencialmente por um medo intenso de engordar mesmo quando muito magra, por uma perda de peso superior a 15% em relação ao peso esperado, por uma alteração significativa da percepção do tamanho e forma corporais e ausência de, pelo menos, 3 ciclos menstruais consecutivos.
Bulimia
A bulimia – é conhecida por delinquência da alimentação, dado estar provado que milhares de pessoas que sofrem da doença se escondem para devorarem alimentos que podem ir até 50 mil calorias por dia. Esta doença é conhecida há séculos, mas só nos anos 80 começou a merecer o interesse do corpo clínico. Atinge cada vez mais camadas da população jovem e estes doentes hesitam proceder a tratamentos psicoterapêuticos recorrendo nomeadamente a processos químicos de emagrecimento.
Factores de alerta!
Na Anorexia Nervosa
» Perda significativa de peso sem causa médica aparente.
» Redução da quantidade de alimentos ingeridos.
» Desenvolvimento de comportamentos ritualizados à refeição, como, por exemplo, cortar a comida em bocadinhos muito pequenos e mastigar cada bocado em grande número de vezes.
» Não assumir a fome.
» Tornar-se progressivamente mais crítico e menos tolerante com os outros.
» Prática excessiva de exercício físico.
» Achar-se sempre muito gordo mesmo quando isso está longe de ser verdade.
» Extremo auto-controlo.
» Não revelar os sentimentos.
Na Bulimia Nervosa
» Arranjar desculpas para ir sempre à casa de banho depois das refeições.
» Ter grandes variações de humor.
» Comprar grandes quantidades de comida que rapidamente desaparecem.
» Apresentar um inchaço anormal à volta dos maxilares.
» O peso apresentar oscilações normais.
» Comer frequentemente grandes quantidades de comida de forma compulsiva.
» Utilizar com frequência e em excesso diuréticos e laxantes.
» Inexplicável desaparecimento de comida em casa ou no local de residência.
Serviços de apoio
» Consulta de Comportamento Alimentar do Hospital de Santa Maria - 217805000
» Consulta de Comportamento Alimentar dos Hospitais de Coimbra - 239402901
» Consulta de Comportamento Alimentar do Hospital de São João no Porto - 225512100
» Consulta de Pedo-Psiquiatria do Hospital de Crianças Maria Pia no Porto - 226089900
» Consulta de Comportamento Alimentar do Hospital de S. Marcos em Braga - 253209000
» Associação dos Famíliares e Amigos de Anorécticos e Bulímicos - 222000042
Fonte: Saúde Semanário

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