terça-feira, 24 de julho de 2007

Aborto: Pelo menos 100 interrupções da gravidez nos hospitais públicos numa semana

24 de Julho de 2007, 17:03
Lisboa, 23 Jul (Lusa) - Pelo menos 100 abortos foram realizados nos hospitais públicos portugueses na primeira semana da entrada em vigor da regulamentação da interrupção voluntária da gravidez, segundo dados recolhidos pela agência Lusa junto de várias unidades. Só na Maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa, realizaram-se 44 abortos abortos a pedido da mulher na última semana, uma média superior a cinco intervenções por dia. Das 44 interrupções voluntárias da gravidez (IVG) feitas desde o dia 16 de Julho e até segunda-feira, em apenas seis se optou pelo meio cirúrgico, sendo a maioria realizada através de medicamentos. No mesmo período, três mulheres desistiram da intervenção, tendo decidido prosseguir com a gravidez após o tempo de reflexão mínimo de três dias estabelecido pela lei. Ao Hospital de Santa Maria, também em Lisboa, chegaram 29 pedidos para IVG, sete dos quais não foram aceites, uma vez que dois dos casos ultrapassavam o prazo legal das 10 semanas, um não correspondia a gravidez efectiva e os restantes envolviam situações de embriões mortos. Segundo disse à Lusa o director do serviço de Obstetrícia da unidade, Luís Graça, até ao momento houve apenas um aborto por aspiração e todos os outros se realizaram com recurso a medicamentos. Até agora houve uma mulher que desistiu do aborto graças ao período de reflexão, situação testemunhada pelo próprio director de serviço de Obstetrícia, que defende que é "dever" dos médicos aconselharem as mulheres a prolongar o período de reflexão quando não estão completamente seguras da sua opção. A outra unidade da cidade de Lisboa que realiza IVG, o Hospital Dona Estefânia, recusou fornecer dados sobre a realização de abortos, alegando que os números são encaminhados para a Direcção-Geral de Saúde. Resposta semelhante foi dada pelos hospitais do Grande Porto, que remeteram informações para a Administração Regional de Saúde ou para a Direcção-Geral de Saúde, tal como no hospital de Santo André, em Leiria, no hospital S. Teotónio, em Viseu e no hospital de Bragança. A agência Lusa contactou a Direcção-Geral de Saúde, que disse que só a partir de 20 de Agosto será possível revelar alguns dados concretos. No Centro Hospitalar de Cascais, onde nove dos 11 obstetras são objectores, foram prestadas consultas iniciais a 17 mulheres, 15 das quais decidiram assinar termos de responsabilidade para prosseguir com a interrupção da gravidez. Segundo adiantou à Lusa a directora clínica, Maria Antónia Fonseca, todos estes abortos serão realizados fora da unidade, uma vez que o mapa de férias não permite disponibilizar de momento o número de profissionais necessários. A Norte do País, no Centro Hospitalar Tâmega/Sousa, o hospital de Penafiel deu 10 consultas prévias na última semana, mas não efectivou ainda qualquer IVG. Em Amarante, o outro hospital que pertence a este Centro Hospitalar, não são realizadas interrupções voluntárias da gravidez, porque todos os obstetras são objectores de consciência. No centro do país, em Coimbra, a Maternidade Bissaya Barreto, que integra o Centro Hospitalar, realizou 48 consultas prévias, das quais já resultaram algumas interrupções voluntárias da gravidez, segundo Fátima Negro, que substitui temporariamente a directora do departamento de obstetrícia. Segundo a médica, muitos dos processos ainda não estão concluídos, pelo que só no final do mês será feito um balanço da entrada em vigor da nova legislação da Interrupção Voluntária da Gravidez. Apesar das várias tentativas da Agência Lusa, não foi possível contactar o director da Maternidade Daniel de Matos, adstrita ao Hospital da Universidade de Coimbra, para obter o número de abortos realizados a pedido da mulher. O Hospital Amato Lusitano, em Castelo Branco, realizou apenas uma consulta prévia e respectiva interrupção da gravidez. Segundo o presidente do Conselho de Administração da unidade, Sanches Pires, "não há mais intervenções previstas nem foram pedidas mais consultas". Na Covilhã, 11 mulheres passaram pela consulta prévia desde a entrada em vigor da nova lei, tendo uma delas desistido da interrupção da gravidez e estando outras duas ainda em período de ponderação. Das oito intervenções já realizadas na Covilhã, uma foi feita por meios cirúrgicos e as outras através de medicação. No hospital de Aveiro, região do país que tem a funcionar uma clínica licenciada para a prática de aborto, não foi até hoje feita qualquer intervenção. No Alentejo, dos três hospitais com serviço de Ginecologia e Obstetrícia, apenas em Beja e Portalegre são realizadas IVG, já que em Évora os 10 médicos da especialidade invocaram o estatuto de objectores de consciência. Esta situação obriga ao encaminhamento das mulheres daquele distrito para as unidades hospitalares de Beja e Portalegre. No caso de Beja, dos nove obstetras do serviço, apenas três não são objectores de consciência, tendo feito, desde a entrada em vigor da nova lei (15 de Julho) e até hoje, um total de "12 IVG". "Atendemos uma dúzia de doentes e já vamos com mais de 20 consultas", afirmou à Lusa a coordenadora da consulta de IVG naquela unidade hospitalar, Isabel Reina. Desde a entrada em vigor da nova lei, o Hospital de Beja teve de recusar uma grávida que pretendia abortar, uma vez que a gravidez já tinha atingido as 12 semanas, estando fora do prazo legal. Quanto ao Hospital de Portalegre, em que apenas um dos quatro obstetras invocou o estatuto de objector de consciência, a administração hospitalar limitou-se a revelar à Lusa terem sido recebidos "nove pedidos de IVG", nenhum dos quais tinha tido concretização até segunda-feira. Na região do Algarve, os dois hospitais que realizam abortos a pedido da mulher efectivaram 12 interrupções de gravidez, sete delas no Hospital de Faro e as restantes cinco em Portimão. A directora clínica do Hospital de Faro, Helena Gomes, reconheceu à Lusa que o número de IVG foi superior "ao esperado", garantindo, contudo, que os 13 obstetras que não invocaram objecção de consciência (de um total de 25) se têm mostrado suficientes. Ao contrário do caso de Faro, em que período de reflexão não fez nenhuma mulher desistir do aborto, no Hospital de Portimão foram atendidas 23 mulheres desde dia 15, das quais cinco optaram pela IVG. Na Região Autónoma dos Açores, onde o hospital da Horta (no Faial) é o único apto a fazer abortos dentro da nova lei, já foram atendidas quatro mulheres nas consultas prévias ao aborto e duas delas já tinham até segunda-feira efectivado a intervenção. O secretário regional dos Assuntos Sociais, Domingos Cunha, adiantou ainda à Lusa que o Hospital da Horta vai reencaminhar uma mulher para uma consulta prévia na clínica privada Os Arcos, em Lisboa, por "falta de capacidade do hospital e restantes hospitais públicos do Serviço Nacional de Saúde". Na região autónoma da Madeira não está a ser aplicada a lei que permite a interrupção voluntária da gravidez a pedido da mulher, por decisão do Governo Regional.
Lusa/fim

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